A variedade de fibras naturais e materiais regenerativos que podem ser utilizados pela indústria da moda é ampla, e o uso responsável desses materiais pode trazer benefícios ambientais, sociais e econômicos, sendo um dos melhores exemplos a pele de camelídeos sul-americanos. Durante séculos, os camelídeos foram parte fundamental da vida das comunidades andinas. Beleza, impermeabilidade, durabilidade e o fato de serem hipoalergênicos são qualidades que tornaram a lã de camelídeo e os tecidos andinos famosos no mundo todo. A fibra de camelídeo e as técnicas de tingimento andino trazem diferentes soluções para as consequências do problema ambiental, além de contribuírem para a sociedade e o próprio ecossistema sul-americano.
Propriedades da fibra de guanaco
O guanaco (Lama guanicoes) e a vicunha (Vicugna vicugna) são os ancestrais selvagens da alpaca e da lhama e podem ser encontrados nos Andes, no clima extremamente frio, seco e severo da região de Puna. A Argentina tem tradicionalmente a maior população de guanacos, estimada em dois milhões de animais (Gavuzzo et.al., 2015). O guanaco é muito valorizado pela sua fibra, que dentro da família dos camelídeos é uma das mais apreciadas devido a lã extremamente macia. Embora o guanaco e a vicunha sejam frequentemente comparados por serem as duas espécies de camelídeos selvagens, eles não compartilham as mesmas qualidades de fibra: o guanaco tem uma melhor finura de fibra, estimada em 15-19 mícrons, enquanto a finura da vicunha equivale a 10-15 mícrons (Infoalpacas, 2015).
As fibras de guanaco são frequentemente usadas como tecido de luxo, resultando em alto valor econômico nos mercados internacionais. No entanto, apesar de seu sucesso proeminente nos mercados estrangeiros, os produtores locais de matérias-primas nos Andes ganham o mínimo de seu valor econômico. Assim, projetos que agregam valor aos produtos da fibra do guanaco são fundamentais para melhorar a vida de artesãos, produtores e agricultores rurais.
O impacto ambiental positivo e a importância simbólica dos guanacos
Segundo Ricardo Baldi (CONICET, 2012), pesquisador associado do Centro Nacional da Patagônia (CENPAT-CONICET), o guanaco tem “almofadas” nos dedos dos pés e, graças a isso, impacta menos o solo: as pastagens ficam mais bem preservadas em comparação às ovelhas que as destroem com seus cascos. Os guanacos também digerem melhor as pastagens secas, reciclam melhor o nitrogênio e, portanto, consomem menos alimentos. Isso é muito importante em épocas de seca. Segundo dados históricos, as populações de guanacos na época pré-colombiana atingiram de 30 a 40 milhões de animais do norte do Peru ao extremo sul do Chile, sem resultar em degradação dos ecossistemas nativos.
Além disso, os guanacos têm o direito de viver e permanecer na Terra e isso faz parte do "Bem Estar" de todos os seres vivos. Pensando nisso e respeitando esse conhecimento, comunidades e povos indígenas demonstram a importância de sua sabedoria em oposição a sociedade urbana que gera esta crise ambiental. O princípio do “Bem Estar” / “Viver em plenitude” (ou Sumak Kawsay) é um símbolo do movimento das comunidades indígenas de todo o continente, sintetizando o desejo profundo de que toda diversidade, social e biológica, seja respeitada e considerada a maior riqueza da América do Sul. Isso inclui todos os guanacos, o gado da "Pachamama".
References and where to learn more
CONICET (2012). Guanaco. An alternative to sustainable development. Published by CONICET.
Gavuzzo el al. (2015). Distribución y densidad de guanacos (Lama Guanicoe) en la Patagonia. Informe Relevamiento 2014 - 2015. INTA y Ministerio de Agricultura, Ganadería y Pesca.
Infoalpacas (2015). Enfoque de Competitividad exportadora en prendas de vestir de los camélidos. Infoalpacas.
Opmerkingen