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O bem-estar do trabalhador na indústria fashion

Por Eva Sirch


A indústria fashion tem um papel crucial em trazer empregos para alguns dos países mais pobres do mundo, mas ainda assim tem sucessivamente falhado em melhorar a vida de seus trabalhadores. Em vez disso, o sistema tem facilitado cadeias de produção globais que promovem a exploração do trabalho, colocando a maior parte dos trabalhadores da indústria têxtil numa pobreza contínua. No mundo todo, trabalhadores da indústria têxtil – sendo composto 80% por mulheres – ganham salários baixíssimos e enfrentam altos níveis de estresse por causa de insegurança no trabalho, condições insalubres e perigosas, assédio, violência, discriminação, entre outros abusos de direitos humanos, como, por exemplo, proibição de exercer seu direito de participar de uniões e sindicatos. Marcas de vestuário em países ricos construíram seu negócio lucrativo em cima de salários baixos, leis trabalhistas e ambientais subdesenvolvidas e inexecutadas. Tem havido um aumento do desenvolvimento regulamentado global, pressionando as companhias de vestuário para uma auditoria de direitos humanos em sua cadeia de produção. Entretanto, o bem-estar dos trabalhadores da indústria têxtil só pode ser verdadeiramente alcançado se a raiz das causas da exploração trabalhista esteja sendo abordada e se práticas responsáveis estejam sendo estabelecidas.


O bem-estar do trabalhador é relacionado a e influenciado por diferentes fatores sociais e econômicos. Os salários possuem um papel importante no bem-estar geral, pois eles garantem estabilidade financeira para o trabalhador e sua família. O pagamento de salário mínimo tem sido visto por especialistas e ONGs como uma ferramenta essencial para retirar as pessoas da pobreza. Para isso, salários mínimos devem cobrir necessidades como comida para a família, aluguel, saúde, vestuário, transporte, educação e uma pequena poupança para possibilitar uma vida minimamente decente. No entanto, trabalhadores da indústria têxtil do mundo todo recebem o salário mínimo legal, que é 45 porcento abaixo da média estimada para viver, de acordo com cálculos de "The Industry We Want" e "Wageindicator Foundation". Foi provado que é particularmente difícil executar uma mudança real, visto que marcas falham em verter suas promessas de salário mínimo em ações efetivamente tangíveis. Deste modo, apenas 2 porcento dos trabalhadores da indústria têxtil no mundo recebe um salário mínimo.


A ineficácia da concessão de salário mínimo pode ser explicada pelo fato de que marcas não versam sobre as práticas que estão diretamente sob seu controle e que poderiam efetivamente gerar melhores salários. O bem-estar econômico e social são fortemente influenciados por modelos de negócios e práticas consumistas das marcas. A indústria fashion representa uma cadeia de valor orientada ao consumidor, na qual as marcas têm um imenso poder sobre as cadeias de produção – por conseguinte, preços e ciclos de produção. É prevalente que fornecedores tenham que produzir enormes demandas num curto período de tempo com um preço estabelecido por concorrentes. Esses preços são frequentemente baixos demais, já que representam a margem ideal para as marcas e não o custo real da produção, tornando particularmente difícil obter um preço justo, ainda mais para atender aos critérios salariais. Preços são negociados previamente, sem considerar a inflação de mercado, a pressão do preço de montagem, e outros riscos da cadeia de produção, como a escassez de material. Os fornecedores lidam sobretudo com o fardo financeiro dos custos na cadeia de produção e do cumprimento a práticas sustentáveis solicitadas pelo consumidor, como: auditoria duplicada, certificações e preços mais altos. Além disso, práticas consumistas maléficas, tais como previsão insuficiente e um menor abastecimento e preço resultante podem gerar grandes ineficiências e impactar a saúde dos trabalhadores. Aspectos como mais horas extras, alta rotatividade de trabalhadores e pressão psicológica estão afetando bastante o bem-estar social. Fornecedores podem também ser forçados a terceirizar partes da sua produção para economizar em sub-empreiteiros a fim de cumprir suas ordens, arriscando sua parceria e futuras violações de direitos trabalhistas.


Contanto que o lucro seja distribuído apenas no topo da cadeia de produção, alcançar metas de sustentabilidade (ex: melhores salários e condições de trabalho) será deixado em segundo plano. Desse modo, uma pesquisa sugere que pontos de referência para salários mínimos devem ser levados em conta antes, nas negociações de preço. É necessário uma mudança fundamental nas práticas consumistas e nos modelos de negócio para que essas mudanças se tornem mais fáceis. De modo geral, marcas almejam parcerias verdadeiras que foquem em práticas regulares, previsíveis e direcionadas, além de preço justo e responsabilidade compartilhada pela sustentabilidade social e ambiental. Assim, fornecedores poderão investir em capital humano, no empoderamento do trabalhador e na sua comunidade local, melhorando o bem-estar geral do trabalhador.


Ao mesmo tempo, cumprir os padrões de salário e de trabalho deve ser verificado de modo mais transparente por toda a cadeia de produção. Iniciativas voluntárias e sua confiança em auditorias sociais são ferramentas insuficientes para detectar violações de direitos humanos e trabalhistas, ou então para gerar melhores práticas. Ademais, auditorias sociais negligenciam examinar como marcas, principalmente suas práticas consumistas, estão envolvidas nas violações identificadas. Portanto, é preciso que uma reforma do sistema de autoria seja feita para garantir que a raiz das violações possa ser exposta e o pagamento de salário mínimo determinado. Isso é particularmente crucial já que auditorias de direitos humanos têm aumentado. Por outro lado, o desenvolvimento legislativo não pode realmente criar um sistema que busca o bem-estar econômico e social, bem como o desenvolvimento sustentável.



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